quinta-feira, 31 de agosto de 2023

ASSIM NASCERAM AS BRUXAS

Dedico esta história às minhas filhas, netas, noras e afilhadas, guardiãs da liberdade. 

 Há muito e muitos séculos atrás, homens e mulheres eram  livres, iguais e viviam em perfeita harmonia e respeito.

              



 No entanto, o desejo do poder que habita o coracão humano veio como um chamuscar de fogo no campo, questionando nos coraçoes masculinos os porquês delas, tão frágeis serem tão poderosas, estavando sempre na liderança! Esqueceram de entender que a fragilidade pode nos tornar extremamente fortes, porque escutamos mais, procuramos saber mais, inventamos mais, amamos o nosso eu feminino punjante. 

Foi assim, que nasceu, como um incendio incontrolável o machismo na humanidade. Era preciso destruir todo este poder feminino, arrancar-lhes a alma se preciso fosse, mas cabia a eles, aos homens, o centro do poder. Esta idéia, tornou-se obssessiva, entrou nos reinos, atravessou os mares, povoou as religiões e foi pouco a pouco tornando a mulher um ser desprezivel que só poderia existir para servir aos desejos indomáveis de seus donos e procriar, procriar e servir...como era determinado pelo status quo de cada época. 

 Num longínquo país, nasceu uma linda menina, filha de um poderoso Rei, que havia decapitado sua mãe por não querer mais os serviços dela. Mandara matar a mãe e a filha, recém nascida. Mulheres, não precisava delas! Tinha filhos, homens de braços fortes, muitos filhos para se vangloriar.

A aia pensativa, carregava aquela linda criancinha rumo so templo, onde seria entregue, como tantas outras meninas para o sacrificio que certamente saciaria o ódio dos deuses, contra aquela humanidade tão decaída, quando foi tomada de súbita compaixao. Ela nao deixaria mais uma menina para sacrificio! Olhando para os lados fugiu sorrateiramente e foi viver nas cavernas, escondendo o seu precioso tesouro.

 Madrágora, este era o nome que recebera da velha aia que amava como mãe, tinha apenas 15 anos e parecia um jovem rapaz, mantinha seus cabelos curtos e se vestia com roupas masculinas, assim podia visitar o reino sem ser perseguida, mas nao se conformava com as injustiças que via acontecer com as mulheres. Comecou a buscar a verdade...Porque viviam assim? Pouco a pouco foi descobrindo como as mulheres tiveram tanto poder, como mantinham suas crenças, suas forças, seus conhecimentos.

 Certo dia encontrou um pergaminho que contava sobre o poder de viajar no espaço. Precisava disto para poder levar a palavra de liberdade para outras mulheres e para fazer este feito precisava de um pau d"arco ornado de capim e um animal preto. Vagueou os olhos pela cozinha e viu uma enxada, retirou o cabo e nele amarrou a palha do colchão, pegou o gato preto que vivia no borralho da cozinha e o seu chapeu e com o vestido esfusiante branco e dourado de sua mãe se jogou no espaco falando as palavras mágicas de amor e poder que aprendera, que poderiam fazer ela viajar no tempo. 

 Naquela noite o pavor tomou conta das cidades. Todos viram no céu uma linda jovem de vestido brilhante, com um chapeu e veus de pura seda montada numa vassoura voadora, com um gato preto no colo. As mulheres surssuravam entre si que tinha chegado a hora da sua libertacao. Os homens, atônitos, temerosos com o acontecido tornaram o evento como mais uma mentira, uma invencionice feminina. uma farsa. Era coisa do demônio. 

 Madrágora continuadamente visitava, nas madrugadas que voava, aquelas mulheres que liderariam a libertação das companheiras em suas pátrias. O movimento estava ficando cada dia mais forte quando, com o apoio de uma mulher invejosa, conseguiram capturar Madrágora e a levaram para ser queimada na fogueira sob a acusacao de que ela era uma Bruxa, a encarnacao do mal. A praça estava repleta de homens dos mais longiquos paises, todos queriam ver o fim daquela que estava levando a ideia de igualdade entre homens e mulheres. As chamas subiam com uma velocidade incrivel naquele martirio infame contra a jovem Madrágora, que não soltara nem um gemido. No dia seguinte, no local onde a jovem fora queimada só havia um resto de pau, retorcido, que mais lembrava um ser extranho. 




Foi jogado na beira da floresta. Após um mes deste incidente, centenas de folhagens iguais àquela que fora jogada foram brotando aqui e alí e as mulheres descobriram que elas eram poções mágicas, curavam doencas do corpo e da alma e chamaram estas plantas de Madrágoras. 


Assim iniciou o retorno da libertação feminina, assim nasceram as bruxas do coletivo masculino, pintaram de preto seus vestidos, eram lembradas pelos seus grandes narizes ponteagudos com verrugas nas pontas, seu gato preto virou simbolo do mal, trocaram seus falcões por corujas velhas enormes,  foram encerradas em prisões e mortas pelas Igrejas nas inquisicoes. Mas de nada adiantou, a guerra fora iniciada, sem fim...

 Toda mulher tem a sua Madrágora, o local que só ela habita, lá ela escuta as vozes da sabedoria da sua "Bruxa interior" que lhe mostra os caminhos, incendeia seus desejos e a transforma no ser nais poderoso da criação: a Mulher. 

 Liberte a sua! 
 Esta historia me foi contada pela minha madrinha Nair, uma bruxa do seu tempo. 

 MCLNetto
31/08/2023

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