sábado, 25 de junho de 2011

CAP VII- HISTORIAS DA MARIA CÉLIA

Minhas bolinhas amarelas!

Sábado! Como eu gosto do sábado! Hoje voltaríamos à praia, iríamos almoçar olhando o mar. era hora de levantar. Preguiçosamente levantei e fui tomar uma ducha e escovar os dentes. Nooossa! As bolinhas da Nair estavam todinhas na minha barriga, mas eram diferentes, tinham pontinhos amarelos. Resolvi então telefonar para meu filho doutor, e pedir uma orientação. Parece que era uma epidemia grave, podia ser catapora, varicela ou quem sabe varíola!
-“Alô” atendeu do outro lado, meu filho.
-”Fernando, sou eu, bom dia! Estou igual o vestido da Minie, só que minhas bolinhas são amarelas, a Nair não tinha bolinhas amarelas....’
Iniciamos um diálogo absurdo, quanto mais ele perguntava mais eu afirmava: -“ Acho que é varíola! Mas pode ser varicela. Estou cheia de bolotas, não, de bolinhas, todas amarelinhas, um horror!
Finalmente ele falou, com aquele tom final, que todo médico fala quando não admite mais nenhuma fala do paciente e a consulta está encerrada.
- “Mãe, isto é stress”. Fica calminha. Vai passear no mar, Varíola é uma doença extinta, não vai ser você que vai trazê-la de volta. Vai passear, esquece os problemas que amanhã, ou mais tarde até depois de amanhã as bolinhas já foram embora. Sabe aquela pomada que você estava usando? Passa ela outra vez.
Te amo de cá, te amo de lá, desliguei o telefone meio decepcionada. Puxa ninguém acredita nas minhas bolinhas. Mas que é varíola, isto eu sei que é! À noite ao deitar olhei com carinho para minhas bolinhas, e pensei: como são bonitinhas, nem coçam. Nesta noite tive febre alta.
Meu primeiro domingo em João Pessoa.
Fomos passear conhecer a praia do jacaré. À tardinha, ao voltar para casa, comecei a sentir arrepios de frio novamente, e muita febre. Naquela noite conversei com Deus, que não e levasse antes de eu me reencontrar com meus filhotes e com o Abrão, queria vê-los mais uma vez. Como é bom a gente ter uma família.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Cap.IV - HISTÓRIAS DE MARIA CÉLIA .

A CHEGADA DO CARRO



Terça-feira acordei cedo, o céu estava nublado, parece que iria chover muito, mas acho que daria para a gente ir à praia só para ver o mar, a chuva deve vir lá pelo início da tarde e, apesar de tudo, o calor e o mormaço convidava a um passeio à beira mar. Estava terminando de colocar o biquíni quando caiu uma tempestade. Bom, é hora de trocar de planos, vamos ver e-mails. Neste momento meu telefone tocou era meu filhote Zeca informando que a cegonha que ia trazer meu carro para João Pessoa havia chegado e que era para eu entrar em contato com a empresa para ir buscá-lo.

Meu Deus, eu já sabia que esta transportadora ficava na saída de João Pessoa, e eu não sou lá essas coisas de boa motorista em dia normal, imagine chovendo e sem conhecer o caminho... Além disto, o carro tinha virado o “meu caminhão de mudanças” e trazia malas e malas, pacotes e mais pacotes dentro, sem falar nas roupas de cama, mesa e banho. Lá também tinha panelas, aparelhos de massagens, CDs e livros aos montes e muitas, mas muitas fotos. Afinal eu ia organizar meus álbuns... Pensei em ir de taxi, levar a Neves e voltar atrás do taxi com a Neves e as malas que tampavam minha visão. Deus do céu, será que não tinha nada mais fácil, não? Ideia! Finalmente falei com o gerente da transportadora e pedi que entregassem meu carro no apartamento. Combinamos por R$ 80,00, bem mais em conta do que se fosse de taxi.

Pir volta das duas horas da tarde o carro chegou, lindo, em cima de uma carreta. Chique demais! Finalmente eu retornava a vida dos andantes. 

Fiquei pensando se pedia para o motorista da empresa colocar ou não o carro na garagem, na minha vaga estreitinha como todas as que a gente conhece. Fiquei horririzada com a situação que me encontrava, se colocasse o carro na garagem nunca mais ia dar conta de tirar ele de lá. Se não colocasse tinha que ficar de fora, e ele estava cheinho de mudança...   Bom, finalmente eu resolvi ficar sem carro e pedi para que fosse guardado na garagem.

Finalmente enchi de coragem e fui subir a mudança. Logo, logo percebi que meu carro tinha que continuar sendo um guarda roupa. Levei malas, algumas roupas de cama, banho, panelas e meus papeis, CDs e fotos. As minhas fotos...

Aquela tarde foi só de arrumação. À noitinha tempo bom, a chuva foi embora, saímos às três velinhas para passear na praia, Nair estava toda feliz na cadeira de rodas, afinal ela tinha duas motoristas para carrega-la e os joelhinhos não iriam mais quebrar.

Camarão, cervejinha gelada, queijo coalho e lá ficamos a relembrar outros fatos. Engraçado como guardamos momentos preciosos de nossas vidas escondidos bem dentro da gente, e é só um toque que as coisas venham  tropeçando uma atrás da outra, nos fazendo rir, chorar e até mesmo sonhar. Foi assim aquela noite. 

Só os velhos sonham e escondem seus sonhos para não serem rotulados de chatos ou ridículos, eles querem atenção, respeito e amor, amor incondicional com aceitação de seus defeitos, sem serem cargas pesadas para ninguém.
 Para não serem rejeitados ficam calados, quietos nos cantos, quase que invisíveis, esquecem-se de sorrir e contam os dias para ir embora. Dão o que têm e o que podem e não pedem nada em troca, talvez porque estão cansados de escutarem que dão muito, muito trabalho.
Quando fui dormir, agradeci a Deus pela oportunidade desta experiência e pedi coragem para enfrentar o medo da garagem!


terça-feira, 7 de junho de 2011

Cap III PRIMEIRO DIA EM JOÃO PESSOA




Acordei com o barulho dos carros, motos e ônibus passando na rua. Puxa vida! Como os automotores fazem barulho!
 Fazia anos que não escutava, na cama, o burburinho da rua agitada. Minha casa em Brasília mais parece uma fazenda, aliás, tem tudo de fazenda, pensei. 

Olhei para a Nair, que dormia na cama ao lado. Estava que nem um anjo! Levantei degavarzinho, como falava o Bruno, e fui para a sala, queria rever João Pessoa!
De um lado o mar batia suas ondas docemente na praia, como que a convidar a um convívio amoroso, do outro lado prédios enormes, verdadeiros arranha-céus enfeitavam a paisagem, trazendo-me um aperto enorme no coração. O que tinha acontecido com aquele pedacinho de paraíso?

Ah¹ Já sei, descobriram João Pessoa! Que pena! Logo, logo, o bicho homem iria acabar com a melhor qualidade de vida do país. Olhei saudosa procurando as casas beira mar. Já nao existiam mais. Tudo era um comércio só. Isso não podia me incomodar, o que eu queria era o sol e o mar e eles estavam lá, me esperando...

Como ia sair dali levando a Nair, sem cadeira de rodas? Já pensou fazer todo o trajeto de volta na ida e na volta novamente? Não ia dar! Tinha que fazer supermercado... Porque Deus não fez a gente sem estômago? Já pensou como seria mais fácil? Deve ter sido porque não havia tanta tecnologia como agora, tenho certeza de que se fosse hoje tudo iria ser muito mais klin. 

Bom, tenho que providenciar uma cadeira de rodas também! O que vou comprar primeiro?
Estava nesta importante tomada de decisão quando a Neves abriu a porta e fez um –“Bom dia", que mais parecia um grunhido e foi  logo disparando:- “Que horror, esta barulheira não dá para ninguém dormir!”. Enquanto falava abria as sacolas da padaria retirando pãezinhos quentinhos com manteiga, e dois copos de café. “–Fui à padaria e trouxe café para vocês, sabem quantas horas são? 11:35! Todo mundo já acordou, só vocês estāo dormindo.
-" È mesmo? Que delícia de café, só mesmo você Net”, falei.
-“Mas esta não é uma cidade turística, conhecida pela sua tranquilidade?” Vamos sair?
- Vamos sim vou acordar a chefe.

Quando entrei no quarto a madrinha tinha sumido. Só podia estar no banheiro, então devagarinho abri a porta e quase morri de rir. A privada do apartamento ficava num elevado de uns 20 cm, parecia um trono, e lá estava ela sentada, literalmente no trono com os pezinhos no ar e encurvada para frente, segurando a bancada da pia do banheiro. Os olhos estavam arregalados e o medo de cair estava estampado no seu rosto.

-“Quem será que fez isto?” Perguntou.
Eu comecei a rir e falei que ia tirar uma foto para mandar para o Zeca.
-”Não, não, o Zeca não, ele vai colocar no Orkut! Tira-me daqui”, pedia suplicante!
- Parece que uma inquilina deste apartamento tinha uma prótese nos quadris e não podia dobrar a perna", explicou a Neves, "pelo menos foi isto que o parteiro me contou"!
- “Nossa, você mal chegou e já sabe das histórias até de outros inquilinos.”
- “A rádio corredor funciona aqui no nordeste também”, comadre.
A
Fiquei pensando se prótese de quadris impede mexer o joelho? Agora estava danado, até ensinar a madrinha a fazer xixi de pé, igual  homem, ia ser uma guerra! Se ela aprendesse e gostasse eu ia aprender também, e quando fosse visitar os parentes da capital eu ia ter uma novidade: Não tinha mais inveja dos homens, nós as velinhas terroristas fazíamos xixi de pé. kakakakak

Relembrei a noite anterior. Que absurdo! Acho que nem o melhor escritor de ficção ia imaginar uma cena como a de ontem, no aeroporto. Falta bom senso nas administrações dos serviços públicos brasileiros, falta treinamento, e o Manual que foi escrito e que serve para nortear os procedimentos tem regras únicas para todos. Incrível como um simples fato trouxe um alvoroço tão grande, e sempre quem perde é o senhor cidadão consumidor. Meus pêsames!

Começamos a arrumar nossas coisas com grande cuidado, e a todo o momento comentávamos a ordem e organização da Marietinha, a dona do apartamento. Tão pequenina, tão linda e caprichosa, sem falar na competência administrativa que tem.

Tínhamos que comprar uma cadeira de rodas. Este era o nosso grande problema. Peguei uma lista telefônica e comecei a ligar. Ninguém mandava entregar, e os preços variavam de R$ 200,00 até a R$1.400,00 e olha que nenhuma era motorizada.

 Acho que a Nair motorizada não ia dar certo, a gente ia levar cada susto! Finalmente descobri que várias lojas ficavam na mesmas rua. Legal, parecia Brasília, e aí era só pegar um taxi e ir lá comprar uma cadeira. Fomos almoçar e trouxemos uma quentinha para a Madrinha que a esta altura dizia que estava enjaulada no apartamento. 

Deixamo-la sentadinha no sofá e partimos para a grande aventura da escolha de uma cadeira de rodas. Você sabe escolher uma cadeira de rodas? Eu não, a Neves muito menos, mas a gente sabia que queria um rodante que levasse a Nair para passear na areia da praia. Ia ser muito difícil carregar ela até o mar. Ai eu sonhava com a cadeira motorizada que vi no Resort de Valencia. O garoto que a pilotava nem mexia com a mão e andava na praia toda. A madrinha não queria andar com os pés, será que ela ia achar bom pilotar com as mãos uma cadeira na praia?

 Escolhe aqui, escolhe ali, entra numa loja e depois em outra, e mais outra e assim fomos descendo a rua toda, umas seis quadras e acabamos descobrindo que a primeira cadeira que vimos era a melhor e a mais em conta. Volta aqui, entra ali, puxa, como tem gente comprando cadeira de rodas. Será que todo mundo está com o mesmo problema da gente? 

Bom, finalmente compramos a cadeira, um andador de quatro pontas e uma almofada plástica de Gel. Que bom, a nossa chefe merece o melhor. O tempo tinha voado, as lojas estavam começando a fechar e a noite já estava caindo, tínhamos que pegar outro taxi. Neste momento lembrei de ver as horas e procurei meu celular. Cadê meu celular?

 –”Neves você guardou meu celular, você viu meu celular”? 
Enquanto isto as portas das lojas iam fechando e eu fiquei desesperada. Tinha que encontrar meu celular. Voltei na loja da compra, na outra, na da frente à depois desta já estava fechada e parece que todas as lojas haviam combinado fechar e eu só ouvia os clicks das portas de ferro baixando. 

Lembrei de telefonar para o meu telefone, quem sabe ele ia me responder, afinal já estava tão acostumado a ser esquecido! Um alô distraído me trouxe de volta a esperança de reaver meu celular. Será que iam pedir resgate?
Depois de inúmeras explicações peguei um taxi e fui para o fim da rua, onde uma gentil senhorita paraibana estava me aguardando com meu telefone querido na mão. Agradecimentos daqui e dali, retornamos ao taxi, eram cinco horas da tarde e já estava escuro, o transito parecia o do centro de São Paulo. Filas intermináveis, todo mundo quase parando. Ai o motorista me deu a explicação mais incrível do mundo. 

Só tem duas ruas que ligam o centro de João Pessoa às praias e uma delas, a Beira Rio, fecha quando chove porque a agua empoça num final de ladeira, e nenhum carro pode passar, e a noite passada tinha chovido muito e a rua ficara fechada. Parece que este tem sido o grande problema das administrações, atual e passadas.

 Porque ninguém resolvia este problema? Fiquei imaginando, pelo que eu conheço de administração pública ou o problema era muito grande, e precisava de muito dinheiro para arrumar e este não devia ser o caso, porque se assim fosse a obra já teria sido contratada em regime de calamidade pública, urgência urgentíssima, ou era muito pequeno, de poucos gastos e aí nunca seria olhada como de relevância e, portanto, não valia a pena contratar uma empreiteira...

Chegamos à casa cheinhas de presentes para a nossa velinha, chefe do bando. Um sorriso grande estampou em seu rosto quando viu os equipamentos que a ajudariam a sair da clausura
-" Enfim estou livre da gaiola!” riu ela com a felicidade de uma criança que ganha o seu primeiro velocípede.

Ainda não fui à praia e nem tomei agua de coco, mas comi balinha de goma. Amanhã vamos fazer as compras de Supermercado e à tarde iriamos todas, de rodinhas e tudo o mais, para a praia.
Nesta noite, ao deitar, agradeci a Deus por mais estas lições: a do cuidado com nossas coisas, a da honestidade, a importância da ética e probidade administrativa, mas antes de fechar os olhos vi a minha mãe sorrindo, me agradecendo pelos cuidados com a Nair. 
Meu Deus, como a gente esquece de ver as precisões dos velhos. Como eles se escondem no silêncio para não nos incomodar, deixando de lado até mesmo suas necessidades mais prementes! Senhor ensina-me a ser uma velha que não incomode ninguém. Hoje estou começando a entender melhor as necessidades que tem, os que amo.








quinta-feira, 26 de maio de 2011

Cap. II -MINHA VIAGEM A JOÃO PESSOA - A CHEGADA.

L..                                                                     

           

      
                                                                     A CHEGADA 

A chuva caia fininha e o taxi parou na porta de um prédio de apartamento que tinha muitas lojas em baixo. Chegamos ao nosso novo endereço. Mas lá tinha muita, mas muita escada. Imponente elas pareciam dizer para nós, três indefesas velhinhas -“Fora suas forasteiras, aqui vocês não entram! Quero ver vocês subirem a terrorista mor!”

 Eu olhei para a Neves, que estava petrificada, pálida, branca como a lua que não aparecera naquela noite... Como iriámos carregar os 70 quilinhos da Nair degraus acima, sem cadeira? E pensar, que nenhuma de nós duas sabia fazer cadeirinha com os braços. Mas isto não era nada! As malas foram saindo do taxi, gordas, enormes, cheias de coisas inúteis, eu pensei, e tive uma vontade imensa de dá-las para um bêbado que passava do outro lado da rua.

Graças a Deus recobrei a minha sanidade e olhei para a madrinha Nair que saia devagarinho do taxi, perna direita, agora a esquerda, puxa o corpo aqui, reclama do inchaço das pernas e finalmente coloca a cabeça para fora, mas senta de volta correndo e fala: - “Não saio! Tá chovendo!!!! Cadê a sombrinha?”

Fiquei pensando porque ela tinha escondido tanta tesourinha e não tinha se lembrado da sombrinha!  Também pudera, quem pensa numa praia com chuva! Olhei as horas 3:17 da manhã, pelo jeito a chuva intermitente e fininha iria até o dia seguinte, quanto será que ia me custar um taxi até as seis e meia da manhã seguinte?

 Contava o dinheiro que tinha trazido quando vi a minha comadre Neves subir as escadas com duas malas, o taxista levando mais outras duas, e eu fiquei pensando cadê as minhas duas? Será que ficou no outro taxi e aí eu saí correndo para carregar o meu quinhão e já estava quase pegando as malas restantes quando me  lembrei de que a Nair continuava sentada no taxi. Estava desorientada. Não sabia se pegava as mala ou se ficava com a Nair. Quando estava neste dilema aconteceu algo que me deixou  aliviada. Linda, reluzente, no meio da noite vinha uma sombrinha andando em nossa direção. Amarela, imensa como um sol!  Eu não sabia se saia correndo ou se pedia uma ajudinha para o fantasma, que certamente estava carregando a sombrinha. A aflição era tanta que, quando eu vi já estava falando: –“Seu fantasma eu gosto muito do senhorzinho, será que você pode dar uma caroninha no guarda chuva  para esta velinha aqui, que está sentadinha no taxi?”. Foi aí que ouvi a risada gostosa do moreno, que de uniforme azul escuro, vinha carregando a sombrinha.   O meu problema da chuva, e do valor que o taxi iria nos custar estava resolvido! Finalmente podia tirar a minha velinha  do taxi e, feliz, fui ajudando-a a ir em direção ao edifício de apartamento.

N osssa!!!!!!!!!!!!!!! As escadas!!!!!!! Como vamos fazer? Nair não sobe escadas!!!!!

O porteiro olhou para a minha velinha, avaliou o peso, olhou para as malas, já  colocadas no topo da escada e nos informou: - “Vou subir as malas pelo elevador de serviço. Aguardo as senhoras no saguão de entrada!!!

E lá fomos nós três subir as escadas.Levanta o pé, Só mais um,  falava encorajando.
-Não vou dar conta! Fico sentada aqui! Traz uma cadeira.  Um cobertor e durmo aqui mesmo! Meu joelho vai quebrar!Falava madrinha Nair
E foi assim que subimos degrau por degrau.

Parecíamos um bando de adolescentes chegando depois de uma festa. Riamos da cena e empurrávamos a madrinha escada acima. O morador do primeiro andar acendeu as luzes e fez um -xiiiiiiiiiiiiiii! da janela e aí era  que a gente ria mesmo. Será que ele queria fazer xixi e estava avisando todo mundo? O bêbado chegou mais para perto, parou e ficou nos olhando e acabou falando:-“Bebí demais, estou tendo visão de coisa ruim!”

Eram 3,47 e agora estávamos orgulhosas em frente ao elevador.  Suadas, molhadas, cansadas mas invencíveis.
-"2º andar à direita”, nos  informou o elegante porteiro, que mais tarde soubemos que se chamava Sebastião

Finalmente chegamos! A porta do elevador abriu e deparamos com um corredor longo, longuíssimo à direita e a Neves, sarcástica, nos informava que o nosso apartamento era o primeiro, de lá para cá. Novo tumulto, agora a Nair queria dormir no elevador. Bom ali era bem melhor. Não tinha vento, e nem ia nos custar nada deixar ela lá dentro, além do que ela ia subir e descer bastante e isto podia ajudar a embalar o sono dela. Já estava quase buscando uma cadeira para colocar no elevador quando ela, toda emburrada, falou: -“ Tá bem eu vou, mas meu joelho vai quebrar!!!”

Devagarinho fomos andando, igual procissão de Goiás Velho, uma ao lado da outra de braços dado com a nossa velinha que, finalmente, entrou no apartamento 201. Tentamos acender as luzes, nada.

Parecia que as bruxas estavam soltas, eram 4:20 da madrugada e estávamos agora dentro de um apartamento, sem condições de andar. Neves entrou, ligou o celular e viu uma cadeira e devagarinho levamos a nossa joia preciosa, a chefe do bando,  para sentar e descansar o joelhinho, antes que ele quebrasse!

Voltei à recepção e expliquei ao porteiro que o apartamento não tinha luz.
-“Ah! Os donos  quando vão embora desligam as luzes, Tem um registro na parede da sala perto dos quartos, é só ligar.”

Subi feliz com a notícia, pior seria se a luz estivesse cortada. Agora era a vez da Neves atuar. “Net, você, que enxerga melhor, procura um quadro na parede perto dos quartos.”
“-Pera aí, vou pegar meus óculos.”

  Aí começamos outra ação de guerra: a procura dos óculos da Neves.”- Deixei aonde? Na mala, na malinha de mão ou na bolsa?” Cada uma destas coisas estavam cheinhas de outras coisas e depois de uma frenética procura, onde calcinhas, sutiãs e perfumes formam misturados com sapatos e celulares, finalmente encontramos a caixinha dos óculos da Nevinha. Caramba! Eu tinha uma velinha que era cadeirante e uma outra que era deficiente visual.

E foi assim ligando e ligando o celular, tateando as paredes que finalmente a Neves descobriu a caixinha de luz bem no meio da sala, em cima de um armário, bem escondida para ninguém achar!

Ligou a luz! Viva! Fiquei pensando o quanto Deus ficou feliz quando Ele fez a luz!!!
Era bom demais ver tudo clarinho. Nair sorriu aquele sorriso grande que só ela tem, finalmente chegamos. Eram  4,48 e tudo era uma maravilha. O som das ondas do mar chegava até nós como que a nos dizer:”- Parabéns! Vocês conseguiram!”

Nair deitou, não quis tomar banho, estava limpinha, limpinha, até o rosto já tinha sido lavado pela chuva fininha da madrugada. Um Ai! Cortou o silencio sepulcral do edifício. Parece que era dentro do apartamento. Sai correndo  para o quarto da Neves e ela estava com a cabeça fora do box do banheiro falando: -" Não tem agua quente! A agua está um gelo!”

Não podia ser verdade! Depois de um dia, ou melhor, uma noite como aquela a gente merecia um banho quente. Lembrei-me do Sebastião!!1 Quem sabe ele sabia consertar chuveiro e ai fui para o interfone e liguei para  a portaria. -“Alô!”- falou com voz de quem estava dormindo há pouco tempo, e muito cansado.

-Seu Sebastião o chuveiro estragou, o senhor sabe consertar?”
-"Não dona, o chuveiro não estragou não, está só desligado, tem uma chavinha dentro de um painel no banheiro e é só abrir e virar para a esquerda." Feliz, voltei para o quarto e passei as coordenadas para a Neves. Uma caixinha no banheiro, e é só abrir e virar uma chave para o lado esquerdo..

 Aí descobrimos que não existia nenhuma caixinha no banheiro. Uma imensa placa de fibra de vidro recobria toda a parede onde o chuveiro estava, e havia uma divisória imensa na parte de cima. Como abrir? Não tinha porta, alça, buraco, nada!!! Só aquele risco fininho da divisória. Bate aqui, bate ali, nada. Finalmente resolvemos chamar o porteiro que muito gentilmente veio nos ensinar a abrir a caixinha mágica da agua quente. Eram 4:55 quando finalmente começamos a nos banhar. Banhar é bão demais! Enquanto tomava banho lembrava das amigas das minhas filhas da cidade de Anicuns que falavam: “Vamu banhá!” 
 Gente, eu estava finalmente banhando!!!1

Cinco horas, o sol começava a raiar no horizonte e eu ajoelhei e agradeci a DEUS por mais um dia, ou melhor, uma noite de aprendizado, e bota aprendizado nisto! Obrigada Senhor! Boa Noite! Hoje, entre tantas coisas, apreendi que era hora de comprar uma cadeira de rodas para a Nair, que não precisávamos de tudo aquilo que estávamos carregando e que banhar e ter luz elétrica era bão demais!

Amanhã vou contar mais histórias interessantes de JP.



MCLeāo






quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cap. I- MINHA VIAGEM A JOÃO PESSOA - O EMBARQUE



                                 



Meus amores queridos!
As c
oisas mais incríveis acontecem comigo.  

Cheguei aqui em João Pessoa e o apartamento, gentilmente cedido pela minha amiga Marieta, tinha dois quarto e éramos três velinhas cheias de roncos e manias, a mais novinha com 56 anos, eu 68 e a mais velinha 94 anos. Imagine a cena! kkkk!

Como boas meninas trouxemos cada uma duas malas, com as nossas roupas, produtos e equipamentos de embelezamento: escova de dente, sabonete, xampus, perfumes e pente de cabelo. O que mais mesmo que velinha usa? Ah, fraldas descartáveis, pó de fixar dentaduras e muito esmalte cor de rosa de enterro. Lindos!!!!
Chegamos às 3h da manhã. Atrasamos o voo da TAM porque a velinha mór, a madrinha Nair, colocou 27 tesouras na sua mala de mão de uns 10kg mais ou menos e na hora de passar na vistoria de malas dentro dp embarque foi um horror, chamaram até o agente de polícia do aeroporto de Brasília. 

A segurança tinha descoberto três velinhas terroristas, a chefe pilotava uma cadeira de rodas, e estavam fortemente armadas de tesouras, tesouronas e tesourinhas, e que certamente estavam planejando sequestrar o avião da madrugada, que ia para João Pessoa.

A segurança só via as tesouras pelo painel de busca, mas eu não encontrava as tesouras  porque estavam muito bem escondidas na maleta de mão. Foi uma cena incrível. Mala aberta, objetos espalhados, calcinhas tipo ceroulas, sutiãs, bolsa de agua quente, remédios de pressão, de dor de cabeça, de estomago, saquinhos de plástico cheinhos de bugigangas, botões, alfinetes, muita linha e centenas de agulhas!!!
 Ah! As agulhas causaram o maior alvoroço!!! Passavam de mão em mão e todos olhavam para nós com aquele olhar de quem descobre um plano macabro e vai acabar com a brincadeira, que certamente teria graves consequências e até mesmo mortes.

Madrinha chorava a cada tesourinha que ia sendo colocada numa caixa, acho que de tesouros. Ao nosso lado tinha um torturador de velinhas que falava: Vamos depressa, pega as tesouras! Logo! Rápido! vocês vão perder o voo! Vamos, andeM, depressa o avião está só esperando vocês!

Eu não sabia se procurava na mala as tesouras, se abandonava as malas ou se corria para o avião! Foi um horror!
E a cada palavra, saia uma tesoura que era entregue ao segurança e a madrinha, com voz desesperada suplicava-"Esta é lembrança de minha irmã Aide, aquela foi minha mãe que usava, a outra comprei no Paraguai, essa maior não, pelo amor de Deus, ela me acompanha a vida inteira, é como uma irmã!” E assim foi. No final ficaram com pena dela e pelo fato de ser uma cadeirante centenária devolveram três ( uma, duas três) minúsculas tesourinhas de pontas arredondadas. Ponta arredondada pooode!

E dizer que um repórter da Globo viajou com armas pelo Brasil todo e não foi incomodado nenhuma vez pela segurança dos aeroportos, de certo é porque ele não foi de madrugada para João Pessoa
Quando nos liberaram para ir pegar o avião fiquei muito brava com a madrinha por não ter me explicado antes como ia ser o plano do assalto ao avião pagador! Porque não tinha colocado as tesouras na calcinha? Ia ser muito mais fácil do que abrir uma mala de 10kg no meio do avião! “Mas ela sorria enigmaticamente e falava:-” Estas meninas de hoje não tem mais senso de aventuras, morrem de medo e não têm mais nenhuma criatividade!"

O pior foi a hora que entramos no avião. Todo mundo nos olhava de uma maneira nada agradável, fiquei imaginando se era pelo atraso do voo ou se todos já sabiam do ato terrorista que as velinhas tinham planejado.
Com o plano descoberto e fracassado chegamos a João Pessoa com duas horas de atraso. Chovia torrencialmente e tivemos que vir em dois táxis, um para as velinhas e suas bagagens de mão, e o outro carro veio com as malas restantes.

Bom, o resto de conto depois...

domingo, 22 de maio de 2011

LEMBRANÇAS




 

 
 Vou começar agora a postar as minhas lembranças, fotos de pessoas queridas que dividiram momentos inesquecíveis comigo. Este é um espaço de encontro e reencontro de sonhos e de vivencias que me transformaram, mudando pensamentos e desejos. Aos meus amigos e aos meus amores deixo um convite para juntos refazermos essa história que  nunca foi esquecida em nossos corações.

MCLEÃO